quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Uso litúrgico de Salmos, Hinos e Cânticos Espirituais.

1.    Introdução

“E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”.
            Efésios 5:18-21

O trabalho em questão digna-se a analisar a questão da utilização do Salmos, hinos e cânticos espirituais sob o foco da fundamentação histórica e teológica da utilização litúrgica da música propondo uma reflexão para a igreja de nossos dias.
            Existe grande confusão a respeito do termos “Hinos”, “Salmos” e “Cânticos Espirituais”. Em muitos casos eles são utilizados como sinônimos, em outros apresentam tal proximidade de conceitos que fica difícil diferenciá-los como se vê nas definições de Davis (2005) onde conceitua: Hinos como meditação espiritual, destinada a ser cantado no culto de adoração a Deus, aponta o livro salmos como a coleção de hinos mais antiga que se conhece; Salmos como coleção de poemas religiosos empregados especialmente no culto público em honra do Deus de Israel; e, Cânticos como  composição poética, em geral pouco extensa, capaz de ser colocada em música, para ser entoada. Cantava-se ao som de música. Quanto a utilização desses elementos Davis afirma ainda que no NT, empregam-se três termos para designar os cânticos cristãos: Salmos, hinos e cânticos espirituais, ou odes. Já Josefo emprega duas dessas palavras, Hinos e Odes em referência aos salmos de Davi. Já os cânticos serviam para fins seculares ou religiosos, em louvor dos homens ou de Deus, e para exprimir profundas emoções de gratidão e reconhecimento, e para as alegrias do vinho.
            Estes termos podem ser verificados na bíblia (Ef 5:19 e Cl 3:16) e o consenso é de que essas palavras tanto podem referir-se a reuniões sociais como ao serviço do culto divino. A característica marcante é o louvor alegre e feliz Já quanto a distinção
não é possível fazer-se distinção precisa entre salmos, hinos e cânticos espirituais, já que não é a intensão de Paulo nos instruir quanto a hinologia, logo rica variedade do canto sagrado é o objetivo da narração (VAUGHAN, 1986).
            Ainda, para VAUGHAN (1986):
“Se se fizer alguma distinção, deve-se entender que na palavra salmos a referência é naturalmente aos salmos do antigo testamento, enquanto hinos e cânticos espirituais são composições tipicamente cristãs, sendo as referidas por último lugar provavelmente improvisos rítmicos sob a influência do Espírito Santo”.

Corroborando com essa afirmação Carson (2009), pontua que “Salmos, Hinos e Cânticos espirituais é uma expressão ampla e inclui salmos do AT, hinos litúrgicos bem como Cânticos cristãos espontâneos”. Apesar da controvérsia assumiremos o conceito distinto de Salmos como a metrificação do livro bíblico de Salmos, Hinos como composições cristãs e Cânticos Espirituais com improvisos rítmicos ou espontâneos contemporâneos.
A intenção de se refletir a respeito do uso dos salmos, hinos e dos cânticos espirituais tem por objetivo responder a pergunta: “Qual a forma correta de se adorar e render louvores a Deus”. O Breve Catecismo de Westminster nos propõe, em sua segunda pergunta: “Que regra Deus nos deu para nos dirigir na maneira de o glorificar e de nos alegrarmos nele?” A resposta encontrada pelos Estudiosos foi que “A Palavra de Deus, que se acha nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, é a única regra para nos dirigir na maneira de o glorificar e de nos alegrarmos nele” (O Breve Catecismo, 2009). Já que a intenção é a de agradá-Lo através dos preceitos encontrados em Sua Palavra A Confissão de Fé de Westminster, capítulo 21,§ 5 declara, a respeito da liturgia:
“A leitura das Escrituras, com santo temor, a sã pregação da Palavra e a consciente atenção a ela, em obediência a Deus, com entendimento, fé e reverência, o cântico de salmos, com gratidão no coração bem como a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo são partes do culto comum oferecido a Deus, além dos juramentos religiosos, votos, jejuns solenes e ações de graça em ocasiões especiais, os quais, em seus vários tempos e ocasiões próprias, devem ser usados de um modo santo e religioso” (Bíblia de Estudo Genebra, 2009).

            Em busca de uma reflexão sobre as práticas descritas pelos termos supracitados, proporemos, através de análise de referências bibliográficas, evidências históricas e exposição do conceito de liturgia, bem como a utilização da música no fazer litúrgico de Lutero, Calvino e dos Evangelistas do sec XIX, propondo uma prática bíblica de conceito Reformado para nossos tempos.
2.    Salmos, hinos e Cânticos Espirituais
Segundo Amorese (2004), A missão da Igreja é Celebrar a multiforme sabedoria de Deus revelada no evangelho. Por isso as funções do culto são delimitadas por ele como: O anuncio do evangelho; O aperfeiçoamento dos santos; O desempenho cristão; A promoção da maturidade dos santos; A edificação da igreja. Já com relação a celebração os elementos essenciais são: Rituais (dramatização de conteúdos e segmentos de significados da boa nova); Educacionais (Doutrina, liturgia, ensino, exemplos etc.); Catárticos (Extravasamento, purificação, arrependimento, reconciliação etc.); De Controle (Admoestativos, exortativos, proféticos). Para ele Celebrar é dramatizar; é viver e reviver, por meio dos gestos, ritos, rituais e artefatos simbólicos, os conteúdos do evangelho. Por isso seu conteúdo devem ser a iniciativa revelada de Deus, graça; resposta esperado do homem, graças. Dentro desse pensamento a música exerce papel importante na celebração e esse tema foi abordado com reverencia pela reforma.

2.1.               Lutero (1483 - 1546) e os Hinos

            Lutero valorizou a música em sua proposta educacional, tanto quando na prática litúrgica. Ele insistiu para que os príncipes, reis e senhores luteranos investissem na música tanto para o povo quanto na igreja. (BLUM 2003)
            Uma evidencia documental pode ser encontrada em sua carta a João, O Constante, em 20 de julho quando pede:
Finalmente, meu mais gracioso Senhor, eu solicito novamente que Sua Graça Eleitoral não vá permitir que os Kantorei deixem de existir, especialmente depois daqueles que, no presente são seus membros, foram treinados para tal trabalho; além disso, a arte é digna de ser suportada e mantida por Príncipes e Senhores, muito mais que outros esforços ou empreendimentos para os quais não há de perto tanta necessidade... Os bens e possessões dos mosteiros poderiam bem ser utilizados para tomar cuidado deste povo. Deus obteria satisfação de uma tal transferência.
           
Outra evidencia encontra-se em “Contra os Profetas Celestiais na questão de Imagens e Sacramentos” (1525) onde comenta sobre o canto e sobre uma liturgia alemã:
Gostaria hoje de ter uma Missa Alemã. Também estou ocupado com ela. Mas eu gostaria muito de ter um verdadeiro caráter alemão. Pois para traduzir o texto latino e manter o tom ou notas latinas tem a minha sanção, embora não soe polido ou bem feito. Tanto o texto e as notas, acento, melodia, como a maneira de execução deve originar-se da verdadeira língua materna e suas inflexões, de outra maneira tudo torna-se uma imitação, à maneira de macacos. (BLUM, 2003)

Para SCHALK (2006), o posicionamento de Lutero quanto aos paradigmas do louvor pode explicado através de cinco reflexões. Primeiro o fato da música ser criação e dádiva de Deus. Citando STRUNK (1950), afirma que: “O Espírito Santo, sugeriu Basílio, combinava o prazer da melodia com ensinamentos afim de que através do deleite e da suavidade do som, nós recebêssemos sem perceber o que era útil nas palavras.
Segundo, para Lutero a música possuía caráter proclamador e de louvor. A função principal da música era o louvor ao criador, fonte de todas as bênçãos e agradecimento à redenção do mundo conquistada em Cristo. O terceiro paradigma é o da música como canto litúrgico. Tinha como preocupação a continuação da liturgia cantada, a música como veículo para envolver o crente no entoar da liturgia.
O quarto paradigma é o da música como a canção do sacerdócio geral de todos os crentes. Ponto culminante de seu argumento. Se todos são sacerdotes quanto maior a participação da comunidade de crentes mais esse caráter sacerdotal estaria em voga. O quinto paradigma é o da Música como sinal de continuidade de uma igreja uma. Para Lutero a música auxiliava a demonstra o caráter unificado da igreja.
            A prática litúrgica de Lutero tinha posição de destaque, afirma que "Depois (ao lado) da teologia, à música o lugar mais próximo e a mais alta honra". Para ele a música e canto, quando utilizados de forma correta levava os homens a adorar a Deus já que "As notas musicais vivificam o texto". Precisaria ser um "sermão em sons" a certeza de Lutero era tamanha que afirmou: "Deus mesmo fez com que o evangelho fosse anunciado com música". Por isso para Ele o cântico congregacional só poderia alcançar seu alvo se a palavra de Deus fosse anunciada. O cântico popular era conceituado por Lutero como o um cântico que explicasse ao povo o evangelho e o auxiliasse a interioriza-lo. (MÓDULO, 1996)

2.2.               Calvino e os Salmos

“Todas as maravilhas da civilização grega, tomadas no seu conjunto total, são menos admiráveis do que este simples livro dos Salmos”.
W. E. Gladstone (Manual Bíblico)

            A importância dos livro de Salmos é inegável no fazer litúrgico de toda história do Judaísmo, bem como da igreja cristã. Quanto a sua coleção e compilação STAPERT (1998) afirma que “foram adaptados para propósitos litúrgicos – em particular, para cantar nos ritos sacrificiais realizados no templo”. O decorrer da história demonstra a importância do uso dos salmos como constituinte da celebração no culto público e no cotidiano dos crentes de todos dos tempos.
            No Culto Judaico “cada dia da semana tinha seu salmo apropriado e o Hallel (salmos 113-118) era cantado nas Luas Novas e nas Festas (BATE, 1980). Além da Páscoa, McKinnon (1986) aventa a possibilidade do Hallel também ser cantado no primeiro dia do Pentecostes, nos oito dias da Festa dos Tabernáculos e nos do Hannukah (CARDOSO, 2011). A tradição vai da tradição da casa para o templo por isso salmos eram tanto a “música da igreja” quanto “música de casa” para os judeus. Stapert (1998). É inegável a força dos salmos na cultura judaica, ela pode ser evidenciada no ministério de Cristo. Faziam parte da natureza mental de Cristo, ao ponto de, em suas últimas palavras citar textos desse livro (22:1; 31:5; Mt 27:46; Lc 23:46). Ele mesmo afirma que muitas coisas a seu respeito estava escrita nos salmos (Lc 24:44). (Manual Bíblico, 1970).
Na Igreja primitiva o uso pode ser evidenciado pelo que escreveu Tertuliano (morto em 215 d. C.) em Apologeticum XXXIX: “Depois de lavar as mãos e acender as lâmpadas, cada um é incentivado a vir para o meio e cantar a Deus, seja das sagradas escrituras ou de sua própria invenção”. A afirmação demonstra tanto o uso de canções de autoria dos próprios crentes como o uso dos salmos. (MCKINNON, 1987). Já a partir século IV com a oficialização da religião pelo Império Romano a liturgia passa, também por um processo de institucionalização afastando a música de sua origem devocional nas refeições comunitárias.
Segundo John Sttot (2012) a definição básica de adoração no saltério é “louvar o nome do Senhor” ou “dar ao Senhor a glória devida ao seu nome”. Entende-se “nome” pela soma total de tudo o que ele é e de tudo o que tem feito.  É adorado nos Salmos como “Criador do mundo” e como “Redentor de Israel”. Salmo 104 admiração pelas maravilhas de da obra de Deus. Salmo 105 Maravilhosas obras de Deus na forma especial como Deus lida com o podo da Aliança. Salmo 106 pela sua paciência de Deus para com seu povo. Salmo 107 louva a Deus por seu amor constante. Salmo 136 agradece ao Senhor por sua bondade na criação e na redenção. Israel não adorava uma deidade abstrata ou distante, mas como o Senhor da natureza e das nações, que revelou a si mesmo por meio de atos concretos, ao criar e sustentar o mundo ao redimir e preservar o povo que lhe pertencia.
            Quanto à prática musical de Calvino afirma-se que na limpeza que fez em suas igreja, foi permitido apenas salmos versificados, já seu contemporâneo e também reformador suíço Zuínglio não permitiu músicas no culto (WALTER in BLUM, 2003). Calvino acreditava que só se poderia cantar Salmos por isso instituiu que fossem cantados metricamente, em uníssono e a capella. Com auxílio profissional ele publicou, em 1539, o Saltério Genebrino, com 150 salmos metrificados. Esse saltério contou com canções populares com salmodia exclusiva, criando distinção entre música sacra e profana. O Saltério Genebrino tornou-se, rapidamente, muito popular e influenciou consideravelmente os saltérios posteriores na Inglaterra, Escócia e América. (MARASCHIN,1983).

2.3.               Os evangelistas e os Cânticos Espirituais

O professor Parcival Módolo nos demonstra como a partir do século dezenove houve uma mudança brusca no foco da música sacra em seu texto “Música Tripartida: Herança do Século Dezenove” (1996). A música (Instrumentos e partituras) passa ser produzida em série e passa frequentar as grandes sala de espetáculos e de concertos musicais, favorecendo o tecnicismo e o virtuosismo instrumental. A arte passa a ser destinada a um público selecionado, uma arte “superior” exclusivista, supérflua e dispensável.
Módulo pontua que:
O compositor do século dezenove, trabalha não mais a serviço de um aristocrata ou de uma instituição, como o Estado ou a própria Igreja, mas sim para um ouvinte desconhecido, para um público, seu estranho. O ser humano que sabe compor músicas passa a ser considerado uma espécie de "ente superior"; um "profeta" na opinião de Schumann e dos seus admiradores.

Rookmaaker (2010) afirma que a partir de então se tornou a arte pela arte, um tipo de religião irreligiosa em que a religião não possui um papel claramente definido. Alguns se sentem como se estivessem olhando para as roupas novas do imperador.
A música passa a ter três classificações: a Música Popular, a Música "Erudita" e a Música Sacra com transito quase inegociável entre ele, no que diz respeito ao local e situação de execução (MÓDOLO, 1996).
Vieram, então, as campanhas evangelísticas que tornaram-se uma espécie de modelo do evangelismo de massa da época. Através de evangelistas como Moody, Sankey, Torrey e Finney nasceu o gospel song, ou canção evangelística um gênero musical com função de sensibilizar os grandes auditórios. O paradigma teológico havia sido mudado, se antes o alvo das canções era Deus a partir do século dezenove o alvo da canção sacra é o homem.
            Ainda segundo Módulo, a prática liturgica da música no brasil tem sua origem no casal Robert e Sara Kalley e na missão presbiteriana com Simonton. Os primeiro Hinários são formados por hinos traduzidos com composições típicas do século dezenove. A “gospel song” tornou-se o estilo mais cantado e conhecido por seu caráter evangelístico, passando a ser considerado um estilo litúrgico. Coube a Sara Kalley a criação do hinário protestante no Brasil, os Salmos e Hinos.

3.    Considerações Finais

Longe de propor uma fórmula de como se deve usar a música na liturgia, este esforço acadêmico procura propor uma utilização refletida da mesma, levando em consideração seu caminho histórico e teológico. O professor Anglada (2005) nos adverte:
“Os cuidado do mundo e a fascinação das riquezas” tem desviado a atenção das pessoas das questões essenciais da vida: As questões filosóficas e espirituais. Mesma quando, afligido pela própria sociedade secularizada em que vive, o homem de nossa época se volta para questões espirituais, ele tende a tornar-se espiritualista, sincretista, supersticioso e animista, em consequência da profunda ignorância espiritual contemporânea.
            Por isso nossa reflexão deve levar em consideração, não um estilo de se fazer ou a impressão de uma marca para identificação de uma denominação. Nossa posição deve ser baseada na busca por tentar resolver questões filosóficas e espirituais.
            Quanto a controvérsia histórica entre salmodia e hinologia que se inicia em Laodiceia, em meados do séc. IV (SCHAFF, 2002), e que culmina em 633, com o Concílio de Toledo que “rejeitou a posição de que era ilegal cantar hinos compostos por seres humanos simplesmente porque eles não eram tomados das Escrituras ou autorizadas por longa tradição” (CABANISS, 1985), essas discussões culminaram em uma compreensão comunitário de que os salmos metrificados são de grande valor para o culto público, mas não assume caráter exclusivista. Essa posição é apoiada pelo fato de que após o século VII, a Igreja, de modo geral, se mostrou disposta a admitir o cântico de hinos não baseados nos trechos das Escrituras, recuperando a prática comum do início da Igreja cristã e preservada na Igreja oriental. (MCKINNON, 1987)
O que pode nos nortear quanto a qualquer desavença a respeito de alguma imposição são as três maneiras pelas quais os cristãos estão vivendo segundo a aprovação de alguém que não é Deus. Na visão de Harris (2013): Primeiro é a de preocupar-se com a geração passada. Em vez de viver pela aprovação, ficam ocupado em reagir a pessoas que já foram; Segundo tentar impressionar os perdidos para alcança-los cruzando as fronteiras da cultura; Em terceiro lugar, Alguns cristãos que fogem totalmente da cultura. Trancam-se dentro da sua pequena subcultura cristã, entram em seu pequeno gueto cristão e fazem do seu objetivo impressionar outras pessoas dentro de sua pequena panelinha cristã. A busca desse se pela aprovação de Deus.
            Cabe aqui, apontar alguns requisitos básicos para a utilização da música no exercício litúrgico. O primeiro é que a música deve ser feita para Deus. Em um “sentido sentido, a adoração tem um público de apenas um, pois é dirigida ao próprio Deus. Inúmeros salmos do antigo testamento se dirigem diretamente a Deus”. (CARSON, 2009).
            O segundo é que as verdades bíblicas precisam ser expressas. Em detrimento de uma salmodia exclusiva o professor NOGUEIRA afirma quanto a letra que: As metrificações empobrecem os conteúdos e ao tentar enriquecê-los cai-se fatalmente na paráfrase; Não se pode afirmar que os saltérios existentes consigam contemplar o que se fala nos Salmos, incorrendo no risco de interpretá-los para acomodá-los na métrica; A necessária cristianização dos Salmos: Para nós o Messias já veio. Não há mais sentido em cantar “Eu te louvarei Senhor ...”, pois agora já o louvamos. Com relação a afirmação “Somente a palavra inspirada por Deus é digna de ser cantada em seu louvor”, declara ainda se assemelharia a proibição de não se orar nenhuma outra oração que não o Pai Nosso já que nem Israel se limitava aos salmos como vemos nos outros cânticos explicitados na Bíblia (NOGUEIRA, 2016), cabe a nós pensarmos nos salmos como referencial.
            Uma expressão recorrente nos próprios salmos aponta para o caráter passageiro da revelação contida no livro de Salmos. É a “um novo cântico” que aparece nos salmos pelo menos 7 vezes (Thompson,1999). Como: “Cantai-lhe um novo cântico” Sl 33:3; 149:1; “Cantarei um novo cântico” Sl 40:3; 96:1; 98:1; e “Pôs um novo cântico na minha boca” 144:9.  O tom dessa expressão não denota ineditismo, mas a ideia de fresco, não mofado, gerado por uma consciência renovada de quem e do que é Deus, ou de viçoso, agradecendo por “novas” misericórdias (CARSON, 2009), o que corrobora com o pensamento de Nogueira (2016) que aponta como novo, o ângulo com que vemos a história. Àquilo que Jesus falou a seus discípulos: “... muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que ouvis e não ouviram” (Mt 13.17).
            Outra questão de extrema relevância é levantada por Rookmaaker (2010) e diz respeito ao “decoro”. Existe sim, certo e errado na utilização da música no serviço litúrgico. É preciso tratar cada situação e objeto da arte sem negligenciar seus limites. O correto é utilizar a forma levando em consideração o tema; e o tema ser tratado de forma reverente decorosa. Logo, em sua relação como o decoro, gosto é o sentimento em relação ao que pode ou não ser feito em um tempo e lugar específico.
É importante seguir os passos dos grandes nomes do passado que produziam suas obras a partir de suas genialidades e ideias sem se deixar levar por tendências. O intuito é operar em uma perspectiva básica da vida e da realidade. Esse pensamento se aplica a produção de músicas para dentro e fora da igreja. Pensando em músicas de evangelismo, o pensamento é que assim como as pessoas mostram quem são por meio de suas roupas e movimentos, essas coisas (música, cartazes ou, em uma palavra, arte) são os elementos que formam nossa primeira comunicação (Rookmaaker, 2010).
            Schaeffer (1980) afirma que a “tarefa de pregar o evangelho é a proclamação de ideias, das candentes ideias comunicadas aos homens, como no-las revelou Deus mediante as Escrituras sagradas”. Por isso nossas doutrinas devem ser expressas em ideias da melhor forma possível, já que cremos que ela é a ideia revelada por Deus na Bíblia. Ela pode ser simples; porém, ela deve ser clara, nunca tola ou superficial. Deve ser disponível para ser apreciada por pessoas comuns (Rookmaaker, 2010).
            Nosso fazer litúrgico de ter como norma o amor a Deus e ao próximo (Rookmaaker, 2010), o culto expressa nossa comunhão com Deus e ela é vivida no convívio fraterno da igreja, “essa comunhão com Deus e do amor de Deus devem dar-se no íntimo de nosso ser. Deus deu ao seu povo, por meio de sua palavra, a mensagem redentora do evangelho, e devemos estar dispostos a lutar por sua integridade e transmissão fiel”. (HARRIS, 2013). Devemos nos importar com a ortodoxia e com o pensamento correto sobre quem Deus é e como ele salva por meio de Jesus Cristo. Por que de nada vale falar do amor a Deus se não se compreende que esta gloriosa verdade pertence ao mundo interior dos nossos pensamentos (SCHAEFFER, 1980).
No fazer litúrgico a música deve ocupar nossas preocupações para um caminhar bíblico e com o alvo em Glorificar e agradar a Deus, levando em consideração a comunidade da fé. Devemos cuidar das letras, da utilização das músicas corretas para cada ocasião com o anseio de que as “declarações verdadeiras sobre Deus sejam feitas, pois queremos a glória dele” (HARRIS, 2013).




4.    Referencias Bibliográficas

·         AMORESE, Rubem. Louvor, adoração e liturgia. Viçosa: Ultimato, 2004.

·         ANGLADA, Paulo. Introdução a Pregação Reformada: Uma investigação histórica sobre o Modelo Bíblico-Reformado de Pregação. Ananindeua: Knox Publicações, 2005.

·         BATE, 1980. In CARDOSO, Dario de Araujo. O Cântico de Salmos na Igreja Cristã Até a Reforma. São Paulo: Editora Revistas Mackenzie. Artigo 2, ciências religião, v9, n2, 2011. pag. 26-51.

·         Bíblia de Estudo Genebra, 2ª Ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009.

·         Bíblia de Referências Thompson com versículos em cadeia temática. São Paulo: Editora Vida, 1999.

·         BLUM, Raul. Os Paradigmas de Lutero para a Música Sacra. Igreja Luterana - nº 1 - 2003 Artigo
Disponível em: <http://www.seminarioconcordia.com.br/seminario/documentos/il/120/IL20031.pdf> Acesso em 19/10/16.

·         CABANISS, 1985. In CARDOSO, Dario de Araujo. O Cântico de Salmos na Igreja Cristã Até a Reforma. São Paulo: Editora Revistas Mackenzie. Artigo 2, ciências religião, v9, n2, 2011. pag. 26-51.

·         CARDOSO, Dario de Araujo. O Cântico de Salmos na Igreja Cristã Até a Reforma. São Paulo: Editora Revistas Mackenzie. Artigo 2, ciências religião, v9, n2, 2011. pag. 26-51.
Disponível em: <http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/cr/article/download/3672/3096> Acesso em 19/10/16.

·         CARSON, D, A. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009.

·         DAVIS, John. Novo Dicionário da Bíblia: Edição ampliada e atual. São Paulo: Hagnos, 2005.

·         HARRIS, Joshua. Ortodoxia Humilde: defendendo as verdade bíblicas sem ferir as pessoas. São Paulo: Vida nova 2013.

·         Manual Bíblico – Um comentário abreviado da Bíblia. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1970.

·         MARASCHIN, Jaci. "O canto e a expressão da vida: música popular e culto evangélico". Cadernos de Pós-Graduação, Ciências da Religião, São Bernardo do Campo, IMS, a.2. fev. de 1983.

·         MÓDOLO, Parcival. Música: Explicatio Textus, Prædicatio Sonora. FIDES REFORMATA 1/1 (1996). Disponível em: <http://cpaj.mackenzie.br/fidesreformata/visualizar.php?id=6>. Acesso em: 05/11/16.

·         ___________ . Música Tripartida: Herança do Século Dezenove. FIDES REFORMATA 1/2 (1996) Disponível em: <http://cpaj.mackenzie.br/fidesreformata/visualizar.php?id=14 >. Acesso em: 05/11/16

·         MCKINNON, 1986. In CARDOSO, Dario de Araujo. O Cântico de Salmos na Igreja Cristã Até a Reforma. São Paulo: Editora Revistas Mackenzie. Artigo 2, ciências religião, v9, n2, 2011. pag. 26-51.

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·         NOGUEIRA, folton.  Salmodia Exclusiva. Temas cristãos 2012. Disponível em: <http://folton.blogspot.com.br/2012/05/salmodia-exclusiva.html>. acesso em 07/11/16.

·         O Breve Catecismo/ assembleia de Westminster (1643 a 1652). São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

·         Rookmaaker, H. R. A arte não precisa de justificativa. Viçosa: Ultimato, 2010.

·         SCHALK, Carl F. Lutero e a Música – Paradigmas de Louvor. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2ª edição, 2006.

·         SCHAFF, 2002. In CARDOSO, Dario de Araujo. O Cântico de Salmos na Igreja Cristã Até a Reforma. São Paulo: Editora Revistas Mackenzie. Artigo 2, ciências religião, v9, n2, 2011. pag. 26-51.

·         SCHAEFFER, Fancis A. Verdadeira espiritualidade. São Paulo: Editora Fiel, 1980.

·         STAPERT, 1998. In CARDOSO, Dario de Araujo. O Cântico de Salmos na Igreja Cristã Até a Reforma. São Paulo: Editora Revistas Mackenzie. Artigo 2, ciências religião, v9, n2, 2011. pag. 26-51.

·         STTOT, John. Crer é Também Pensar. São Paulo: ABU, 2012.

·         STRUNK, 1950. In SCHALK, Carl F. Lutero e a Música – Paradigmas de Louvor. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2ª edição, 2006.

·         VAUGHAN, Curtis. Efésios: Comentário Bíblico. Miame: Editora Vida, 1986.

·         WALTER E. Buzin, Luther on Music. Citado por Carl F. Schalk in Luther on Music: paradigms of praise, p. 24. In BLUM, Raul. Os Paradigmas de Lutero para a Música Sacra. Igreja Luterana - nº 1 - 2003 Artigo
Disponível em: <http://www.seminarioconcordia.com.br/seminario/documentos/il/120/IL20031.pdf> Acesso em 19/10/16.

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