quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Resumo: O Cristão e a Sociologia

LYON, David. O Cristão e a Sociologia. São Paulo: ABU, 1996.


O trabalho em questão se digna a resumir e analisar o livro “O Cristão e a Sociologia” do Professor de uma grande universidade no Canadá David Lyon. A obra em questão procura introduzir, de forma breve, os conceitos de Sociologia. A obra parte de um trabalho acadêmico do autor ainda em seu tempo de graduação e, segundo o próprio autor, já foi traduzido para outras línguas. O autor aponta a questão recorrente em sua experiência sobre a posição que um cristão deve tomar diante. Sua postura cristã se coloca em detrimento da posição antropocêntrica vigente nos estudos sociológicos atuais e sua busca se posta da esperança de compreender a relação entre a fé cristã e os pressupostos da sociologia.

O primeiro capitulo se posta sobre o par de conceitos em questão no Livro, a saber, a Sociologia e a Fé Cristã. O autor aponta a importância da sociologia em  todos os âmbitos da sociedade. Demonstra, ainda, o medo dos cristãos com relação a matéria por considerá-la um dogma pernicioso. O conceito desenvolvido por alguns sociólogos corrobora com esse medo, a exemplo da visão da pessoa que não possuem um “eu”, apenas uma papel a desempenhar ou, inda mais pernicioso para a fé, o entendimento de religião apenas como uma resposta a frustração, anomalia ou a socialização do indivíduo.
Lyon verifica que existem quatro postura para se lidar com esse impasse: A Prieira é trocar de curso; A segunda é a de Separar secular da parte sagrada da mente; A terceira é a de assumir a sociologia como nova fé que engole a primeira; a última, e mais aconselhável pelo autor, é a de ser um cristão com a mente aberta para encontrar as verdades de Deus na ciência.
 A obra aborda a diferença de visão entre sociólogos e a fé demonstrando que ela está baseada nos conflitos de sistemas internos de pensamento, ou seja, nos pressupostos. Finda o primeiro capítulo pontuando as duas áreas fundamentais de debate entre a dualidade trabalhada no capítulo, sociologia e fé, como: Imagem humana e natureza da religião. Mas chama a tenção para a diversidade da sociologia e para o fato de ela ser uma disciplina sujeita a mudanças e desenvolvimento
O segundo capítulo trabalha a Sociologia da Sociologia. Faz um apanhado histórico da sociológica definindo que para entendê-la precisa-se estudar a origem intelectual política e social. Delimita Sociologia como a tentativa de “compreender, controlar e até mudar a sociedade”. A base de sua argumentação se posta na estrutura do socialismo no Humanismo e no ceticismo do sec XIX. Afirma que os sociólogos pioneiros afetados pela mudança repentina de valores e conceitos novos.
Em um breve histórico da revolução francesa e seu ideal de “Liberdade, igualdade, fraternidade” o autor fala que o novo senso de identidade muda a idéia de estado e posteriormente de “sistemas sociais”. Acrescida a revolução industrial, avanço tecnológico e a formação de trabalhadores urbanos. Novos conceitos de Lar e trabalho, família e economia passaram a ser estudados. Marx foi proeminente em sua análise do que ele mesmo denominou “Sistema Capitalista de Produção”, construída a partir da visão de operários como escravos assalariados da história da luta de classes e da relação entre empregadores e trabalhadores alienados.
Através da Escola de Economia de Londres e seus estudos na área de investigação e legislação social e a tradição de estudos comunitário da Universidade de Chicago a Sociologia passa receber status entre os meios científicos. Com o advento do iluminismo a sociologia passa a ver os fenômenos com parte da natureza o que exclui qualquer explicação sobrenatural. Por isso instituições, a prática religiosa, bem como o pensamento religioso tradicional foram definhando e caindo no descrédito em meio aos debates dessa sociedade que acreditava sobreviver sem a idéia do sobrenatural. Cresse, então, a obsessão pela ciência.
Outro autor proeminente da formação do pensamento da sociologia foi Comte (1798-1857). Ele apontava para o fim da era “Teológica e militar” para uma “cientifica e industrial” visão Positivista, baseada “Puramente a partir dos fatos. Para Conte existe uma “metaciência” que explica a ciência através de seus pressupostos. Ele é um grande elo segundo o autor, entre os sociólogos pioneiros e os atuais. Já para Durkeim (1858-1917) era necessário que a sociologia produzisse uma nova moralidade não-religiosa que substituísse a da religião tradicional devido ao otimismo da época que acreditava que a ciência teria respostas para tudo. Surge, então o darwinismo social com a premissa da evolução, um progresso contínuo da humanidade. Esse levante se fundamentou na premissa humanista onde o homem é potencialmente bom e tem o potencial necessário para aperfeiçoar e governar a si mesmo sem ajuda ou autoridade externa.
Positivismo e empirismo exercem grande influencia no pensamento moderno abrindo as bases para uma atitude cientifico - positivista para com o objeto de estudo. Percebe-se uma insatisfação com a ingenuidade com relação as certezas assumidas pelos primeiros sociólogos. O papel dos pressupostos, então não podem ser confirmados como verdade absoluta. Surge a geração pós empírica. Entendendo que se exerce sociologia baseado em valores preconcebidos. A sociologia progride historicamente para humanística e científica como fruto da industrialização e da mudança na mentalidade da humanidade. Existem duas verdade nas quais os sociólogos modernos se pautam: Os modelos mecanicistas da ciência natural não podem ser utilizados nas ciências humanas sem passar por um outro crivo; não há trabalho científico sem pressupostos. O autor aponta um caminho de abertura de mente através da compreensão de que como cristãos precisamos de ajuda para compreender o real e que para isso precisamos descobrir o que, dentro da sociologia, está em choque com a fé cristã.
O capítulo três trás como título: “Quem é que diz isso?” A sociologia é uma ciência meche com as bases, do que tomamos com certo. O autor delimita seu objeto de estudo na sociologia do conhecimento. Um conceito importante para a compreensão da sociologia do conhecimento é o de ideologia. Entende-se como uma justificativa ou explicação para alguma ação, reação ou estado das coisas. A ideologia não é só política, mas religiosa, mitológica ou intelectual. Lyon deflagra que está na moda incluir esse tipo de sociologia em tudo que se passe por conhecimento, apontando o senso comum como um forte exemplo disso. Fala do conceito de cosmovisão é apontado pelo autor como fonte de estudos dos sociólogos. A abordagem se dá na análise, por exemplo, de uma idéia falsa que aceita como válida por um grande número de pessoas só poderia se revelada sob análise do contexto social em que se manifestam. Para o sociólogo a resposta para as questões da sociedade está na própria sociedade. Essa mesma sociologia apresenta posturas totalitárias, por exemplo, o funcionalismo que com sua obsessão com a função desconsidera outros fatores como a interação distorcendo sua percepção da realidade.
Em última análise o autor descreve a postura que deve ser assumida pelos cristãos frente a percepção da realidade. Usa Jesus e suas duras declarações a respeito das tendências da cultura moderna. A fé cristã credita a Deus a autoriadade final de todas as questões e que Ele se revela de várias maneiras. Para Lyon, a pessoa comprometida encontra em Deus a certeza de sua fé cristã. Essa fé é postada, então, na auto-revelação de Deus, que provê princípios e critérios que nos permitem avaliar toda e qualquer idéia cuja fonte seja puramente humana e social. Por isso o autor afirma que nosso pensamento sociológico deve estar sob base revelada por parte de Deus.
O quarto capítulo apresenta a idéia do Homo Sociologicus. Afirma que o homem em seus relacionamentos sociais é o centro de interesse do sociólogo, por isso seu interesse na imagem humana. Por isso apresenta o homem sob diferentes aspectos. Em primeiro lugar, como ser maleável. Aponta para a socialização e para a internalização, como parte integrante da personalidade dos homens. Ou seja partilhamos com os outros de uma cultura comum. Lyon aponta três perspectivas sociológicas diferentes. O behaviorismo, o funcionalismo e a do voluntariarismo. Demonstra no último parágrafo suas restrições a essa visão afirmando sua dificuldade como cristão de adotá-la.
Em segundo lugar como autodependente. Sob essa visão o homem é ativa e tem consciência de seus objetivos. O homem é visto baseado nos seus interesses, em detrimento de sua causa, função ou interesse. Toma como ponto de partida as convicções e valores e as ações resultantes.
Em terceiro lugar a obra aponta para o ser humano como sendo a imagem do criador. Apresenta com dilema o fato de não conseguirmos enxergar a nós mesmos de forma integral que só conseguimos ver a sociedade à luz da revelação de Deus, tendo somente uma visão parcial.
Procurando uma visão integral do homem, Lyon afirma que a Bíblia tem como visão a integralidade do homem como imagem de Deus. Que isso impede qualquer visão que divida a compreensão do homem. Aponta para a religião como “A vida” e não, apenas, parte integrante dela e para o fato de sermos responsáveis por nossos atos e palavras, mas nossa capacidade de tomar decisões não pode ser chamada de liberdade. A nossa visão da sociologia baseia-se no exame dos efeitos do pecado sobre a sociedade. Esse pecado se expressa na nossa busca por autonomia ou tentativa de decidir o que é certo ou errado por nós mesmos. O pecado é sutil e devastador, individual e ou social. Por isso, mais uma vez Deus se apresenta como resposta a esse problema sociológico através de sua revelação. O autor afirma que Somente o Senhor é mestre, senhor e rei e que esse é o ponto de colisão entre as cosmovisões, sociológica e cristã.
O Capítulo cinco apresenta como tema: “Estatística e Salvação”.  Trabalha a religião sob a ótica da sociologia, qualificando-a e conceituando sob esse ponto de vista. Afirma que a religião é vista apenas como um fenômeno social. Apresenta os pontos de vista dos funcionalista e dos marxistas contrapondo-as com o ponto de vista cristã que deve se postar sobre a argumentação de que existe uma “verdadeira” religião. Lyon apresenta três enfoques de como os sociólogos vêem a religião. O primeiro vê a religião como conduta. De base empírica, percebe a religião a partir de estatísticas de adesão fazendo relações entre classes sociais e denominações. Fomenta o pragmatismo baseado em suas pressuposições. A segunda é ver a religião como crença. Apresenta a religião como algo que torna plausível certas práticas e instituições e lhes dá significado. A crença passa, então, a auxiliar a manter e construir a realidade. O terceiro grupo olha para a religião como reificação, ou seja, uma objetivação de um desejo em busca de segurança a religião não passa de uma ilusão para produzir conforto a algum mal.
“As questões dos anos noventa” são o foco do sexto capítulo. O autor fala, então de sua realidade histórica. A década em questão marca o fim de uma sociedade moderna e abre portas para uma sociedade considerada pós moderna, onde o relativismo abre caminho em meio a um emaranhado de teorias e cosmovisões. A revolução tecnológica e nos meios de comunicação são marcas de uma cultura pós-industrial, onde o conhecimento é a nova força motriz social. O autor aponta para dois perigos que a igreja enfrenta nessa nova realidade: O de nos acomodar com a mudança e o de resistir. Ressalta, ainda que estamos, mas não somos do mundo e precisamos refletir e lidar melhor com esse fato.
O último capítulo procura refletir a respeito de uma sociologia cristã. Na verdade uma exortação a uma tomada de posição quanto a ocupar lugar significativo no construir acadêmico e no debate social a respeito da formação do pensamento social, sem neutralidade. Registra que o cristão precisa fazer uso do que é verdade nos postulados das outras sociologias e encerra sua obra apontando para o fato de que negar a sociologia secular seria negar que Cristo é o Senhor do nosso pensar sociológico e por outro lado, que nossos pressupostos cristãos não teriam relevância para nossa vida como sociólogos.
O texto é não só uma defesa da sociologia como matéria de grande valor para a apreensão da realidade por parte dos cristãos como uma defesa da fé como fonte reguladora e norteadora da realidade, partindo do princípio que a relação com a revelação de Deus nos dá a certeza de que toda verdade é uma verdade de Deus. Fechar os olhos para tais ferramentas de observação da sociedade resultaria em uma visão míope do próprio evangelho de Cristo. O texto é eficaz em apontar a supremacia da revelação em detrimento do pensamento sociológico, deflagrando suas disparidades com a palavra e submetendo-a ao seu crivo. Uma boa proposta de estudo, fomentado pelo livro, seria uma avaliação da compreensão social da matéria, hoje duas décadas depois, com a pós modernidade mais desenhada e o aumento das oportunidades de relação com a ciência por parte da igreja em geral.

            O livro apresenta uma leitura agradável e simples, servindo para uma introdução ao assunto de forma qualificada e abrangente. Apresenta também bons caminhos para um estudo mais aprofundado no que se refere à atuação do cristão na formação do pensamento social em todos os níveis de discussão.

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