LYON, David.
O
Cristão e a Sociologia. São Paulo: ABU, 1996.
O trabalho em questão se
digna a resumir e analisar o livro “O Cristão e a Sociologia” do Professor de
uma grande universidade no Canadá David Lyon. A obra em questão procura
introduzir, de forma breve, os conceitos de Sociologia. A obra parte de um
trabalho acadêmico do autor ainda em seu tempo de graduação e, segundo o
próprio autor, já foi traduzido para outras línguas. O autor aponta a questão
recorrente em sua experiência sobre a posição que um cristão deve tomar diante.
Sua postura cristã se coloca em detrimento da posição antropocêntrica vigente nos
estudos sociológicos atuais e sua busca se posta da esperança de compreender a
relação entre a fé cristã e os pressupostos da sociologia.
O primeiro capitulo se posta
sobre o par de conceitos em questão no Livro, a saber, a Sociologia e a Fé
Cristã. O autor aponta a importância da sociologia em todos os âmbitos da sociedade. Demonstra,
ainda, o medo dos cristãos com relação a matéria por considerá-la um dogma
pernicioso. O conceito desenvolvido por alguns sociólogos corrobora com esse
medo, a exemplo da visão da pessoa que não possuem um “eu”, apenas uma papel a
desempenhar ou, inda mais pernicioso para a fé, o entendimento de religião
apenas como uma resposta a frustração, anomalia ou a socialização do indivíduo.
Lyon verifica que existem
quatro postura para se lidar com esse impasse: A Prieira é trocar de curso; A
segunda é a de Separar secular da parte sagrada da mente; A terceira é a de
assumir a sociologia como nova fé que engole a primeira; a última, e mais
aconselhável pelo autor, é a de ser um cristão com a mente aberta para
encontrar as verdades de Deus na ciência.
A obra aborda a diferença de visão entre
sociólogos e a fé demonstrando que ela está baseada nos conflitos de sistemas
internos de pensamento, ou seja, nos pressupostos. Finda o primeiro capítulo
pontuando as duas áreas fundamentais de debate entre a dualidade trabalhada no
capítulo, sociologia e fé, como: Imagem humana e natureza da religião. Mas
chama a tenção para a diversidade da sociologia e para o fato de ela ser uma disciplina
sujeita a mudanças e desenvolvimento
O segundo capítulo trabalha
a Sociologia da Sociologia. Faz um apanhado histórico da sociológica definindo
que para entendê-la precisa-se estudar a origem intelectual política e social.
Delimita Sociologia como a tentativa de “compreender, controlar e até mudar a
sociedade”. A base de sua argumentação se posta na estrutura do socialismo no Humanismo
e no ceticismo do sec XIX. Afirma que os sociólogos pioneiros afetados pela
mudança repentina de valores e conceitos novos.
Em um breve histórico da
revolução francesa e seu ideal de “Liberdade, igualdade, fraternidade” o autor
fala que o novo senso de identidade muda a idéia de estado e posteriormente de
“sistemas sociais”. Acrescida a revolução industrial, avanço tecnológico e a
formação de trabalhadores urbanos. Novos conceitos de Lar e trabalho, família e
economia passaram a ser estudados. Marx foi proeminente em sua análise do que
ele mesmo denominou “Sistema Capitalista de Produção”, construída a partir da
visão de operários como escravos assalariados da história da luta de classes e
da relação entre empregadores e trabalhadores alienados.
Através da Escola de
Economia de Londres e seus estudos na área de investigação e legislação social e
a tradição de estudos comunitário da Universidade de Chicago a Sociologia passa
receber status entre os meios científicos. Com o advento do iluminismo a
sociologia passa a ver os fenômenos com parte da natureza o que exclui qualquer
explicação sobrenatural. Por isso instituições, a prática religiosa, bem como o
pensamento religioso tradicional foram definhando e caindo no descrédito em
meio aos debates dessa sociedade que acreditava sobreviver sem a idéia do
sobrenatural. Cresse, então, a obsessão pela ciência.
Outro autor proeminente da
formação do pensamento da sociologia foi Comte (1798-1857). Ele apontava para o
fim da era “Teológica e militar” para uma “cientifica e industrial” visão
Positivista, baseada “Puramente a partir dos fatos. Para Conte existe uma
“metaciência” que explica a ciência através de seus pressupostos. Ele é um
grande elo segundo o autor, entre os sociólogos pioneiros e os atuais. Já para
Durkeim (1858-1917) era necessário que a sociologia produzisse uma nova
moralidade não-religiosa que substituísse a da religião tradicional devido ao
otimismo da época que acreditava que a ciência teria respostas para tudo. Surge,
então o darwinismo social com a premissa da evolução, um progresso contínuo da
humanidade. Esse levante se fundamentou na premissa humanista onde o homem é
potencialmente bom e tem o potencial necessário para aperfeiçoar e governar a
si mesmo sem ajuda ou autoridade externa.
Positivismo e empirismo
exercem grande influencia no pensamento moderno abrindo as bases para uma
atitude cientifico - positivista para com o objeto de estudo. Percebe-se uma
insatisfação com a ingenuidade com relação as certezas assumidas pelos
primeiros sociólogos. O papel dos pressupostos, então não podem ser confirmados
como verdade absoluta. Surge a geração pós empírica. Entendendo que se exerce
sociologia baseado em valores preconcebidos. A sociologia progride
historicamente para humanística e científica como fruto da industrialização e
da mudança na mentalidade da humanidade. Existem duas verdade nas quais os
sociólogos modernos se pautam: Os modelos mecanicistas da ciência natural não
podem ser utilizados nas ciências humanas sem passar por um outro crivo; não há
trabalho científico sem pressupostos. O autor aponta um caminho de abertura de
mente através da compreensão de que como cristãos precisamos de ajuda para
compreender o real e que para isso precisamos descobrir o que, dentro da
sociologia, está em choque com a fé cristã.
O capítulo três trás como
título: “Quem é que diz isso?” A sociologia é uma ciência meche com as bases,
do que tomamos com certo. O autor delimita seu objeto de estudo na sociologia
do conhecimento. Um conceito importante para a compreensão da sociologia do
conhecimento é o de ideologia. Entende-se como uma justificativa ou explicação
para alguma ação, reação ou estado das coisas. A ideologia não é só política,
mas religiosa, mitológica ou intelectual. Lyon deflagra que está na moda
incluir esse tipo de sociologia em tudo que se passe por conhecimento,
apontando o senso comum como um forte exemplo disso. Fala do conceito de
cosmovisão é apontado pelo autor como fonte de estudos dos sociólogos. A
abordagem se dá na análise, por exemplo, de uma idéia falsa que aceita como
válida por um grande número de pessoas só poderia se revelada sob análise do
contexto social em que se manifestam. Para o sociólogo a resposta para as
questões da sociedade está na própria sociedade. Essa mesma sociologia
apresenta posturas totalitárias, por exemplo, o funcionalismo que com sua
obsessão com a função desconsidera outros fatores como a interação distorcendo
sua percepção da realidade.
Em última análise o autor
descreve a postura que deve ser assumida pelos cristãos frente a percepção da
realidade. Usa Jesus e suas duras declarações a respeito das tendências da
cultura moderna. A fé cristã credita a Deus a autoriadade final de todas as
questões e que Ele se revela de várias maneiras. Para Lyon, a pessoa
comprometida encontra em Deus a certeza de sua fé cristã. Essa fé é postada,
então, na auto-revelação de Deus, que provê princípios e critérios que nos
permitem avaliar toda e qualquer idéia cuja fonte seja puramente humana e
social. Por isso o autor afirma que nosso pensamento sociológico deve estar sob
base revelada por parte de Deus.
O quarto capítulo apresenta
a idéia do Homo Sociologicus. Afirma que o homem em seus relacionamentos
sociais é o centro de interesse do sociólogo, por isso seu interesse na imagem
humana. Por isso apresenta o homem sob diferentes aspectos. Em primeiro lugar,
como ser maleável. Aponta para a socialização e para a internalização, como
parte integrante da personalidade dos homens. Ou seja partilhamos com os outros
de uma cultura comum. Lyon aponta três perspectivas sociológicas diferentes. O
behaviorismo, o funcionalismo e a do voluntariarismo. Demonstra no último
parágrafo suas restrições a essa visão afirmando sua dificuldade como cristão
de adotá-la.
Em segundo lugar como
autodependente. Sob essa visão o homem é ativa e tem consciência de seus
objetivos. O homem é visto baseado nos seus interesses, em detrimento de sua
causa, função ou interesse. Toma como ponto de partida as convicções e valores
e as ações resultantes.
Em terceiro lugar a obra
aponta para o ser humano como sendo a imagem do criador. Apresenta com dilema o
fato de não conseguirmos enxergar a nós mesmos de forma integral que só
conseguimos ver a sociedade à luz da revelação de Deus, tendo somente uma visão
parcial.
Procurando uma visão
integral do homem, Lyon afirma que a Bíblia tem como visão a integralidade do
homem como imagem de Deus. Que isso impede qualquer visão que divida a
compreensão do homem. Aponta para a religião como “A vida” e não, apenas, parte
integrante dela e para o fato de sermos responsáveis por nossos atos e
palavras, mas nossa capacidade de tomar decisões não pode ser chamada de
liberdade. A nossa visão da sociologia baseia-se no exame dos efeitos do pecado
sobre a sociedade. Esse pecado se expressa na nossa busca por autonomia ou tentativa
de decidir o que é certo ou errado por nós mesmos. O pecado é sutil e
devastador, individual e ou social. Por isso, mais uma vez Deus se apresenta
como resposta a esse problema sociológico através de sua revelação. O autor
afirma que Somente o Senhor é mestre, senhor e rei e que esse é o ponto de
colisão entre as cosmovisões, sociológica e cristã.
O Capítulo cinco apresenta
como tema: “Estatística e Salvação”.
Trabalha a religião sob a ótica da sociologia, qualificando-a e
conceituando sob esse ponto de vista. Afirma que a religião é vista apenas como
um fenômeno social. Apresenta os pontos de vista dos funcionalista e dos
marxistas contrapondo-as com o ponto de vista cristã que deve se postar sobre a
argumentação de que existe uma “verdadeira” religião. Lyon apresenta três
enfoques de como os sociólogos vêem a religião. O primeiro vê a religião como
conduta. De base empírica, percebe a religião a partir de estatísticas de
adesão fazendo relações entre classes sociais e denominações. Fomenta o
pragmatismo baseado em suas pressuposições. A segunda é ver a religião como
crença. Apresenta a religião como algo que torna plausível certas práticas e
instituições e lhes dá significado. A crença passa, então, a auxiliar a manter
e construir a realidade. O terceiro grupo olha para a religião como reificação,
ou seja, uma objetivação de um desejo em busca de segurança a religião não
passa de uma ilusão para produzir conforto a algum mal.
“As questões dos anos
noventa” são o foco do sexto capítulo. O autor fala, então de sua realidade
histórica. A década em questão marca o fim de uma sociedade moderna e abre
portas para uma sociedade considerada pós moderna, onde o relativismo abre
caminho em meio a um emaranhado de teorias e cosmovisões. A revolução
tecnológica e nos meios de comunicação são marcas de uma cultura pós-industrial,
onde o conhecimento é a nova força motriz social. O autor aponta para dois
perigos que a igreja enfrenta nessa nova realidade: O de nos acomodar com a
mudança e o de resistir. Ressalta, ainda que estamos, mas não somos do mundo e
precisamos refletir e lidar melhor com esse fato.
O último capítulo procura
refletir a respeito de uma sociologia cristã. Na verdade uma exortação a uma
tomada de posição quanto a ocupar lugar significativo no construir acadêmico e
no debate social a respeito da formação do pensamento social, sem neutralidade.
Registra que o cristão precisa fazer uso do que é verdade nos postulados das
outras sociologias e encerra sua obra apontando para o fato de que negar a
sociologia secular seria negar que Cristo é o Senhor do nosso pensar
sociológico e por outro lado, que nossos pressupostos cristãos não teriam
relevância para nossa vida como sociólogos.
O texto é não só uma defesa
da sociologia como matéria de grande valor para a apreensão da realidade por
parte dos cristãos como uma defesa da fé como fonte reguladora e norteadora da
realidade, partindo do princípio que a relação com a revelação de Deus nos dá a
certeza de que toda verdade é uma verdade de Deus. Fechar os olhos para tais
ferramentas de observação da sociedade resultaria em uma visão míope do próprio
evangelho de Cristo. O texto é eficaz em apontar a supremacia da revelação em
detrimento do pensamento sociológico, deflagrando suas disparidades com a
palavra e submetendo-a ao seu crivo. Uma boa proposta de estudo, fomentado pelo
livro, seria uma avaliação da compreensão social da matéria, hoje duas décadas
depois, com a pós modernidade mais desenhada e o aumento das oportunidades de
relação com a ciência por parte da igreja em geral.
O
livro apresenta uma leitura agradável e simples, servindo para uma introdução
ao assunto de forma qualificada e abrangente. Apresenta também bons caminhos
para um estudo mais aprofundado no que se refere à atuação do cristão na
formação do pensamento social em todos os níveis de discussão.
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