A praça
Olá,
Hoje proponho
a você uma viagem. Uma viagem a algumas praças, que eu e você já vivemos. Essa
viagem tem o propósito de nos ensinar sobre missões. Bom... Começaremos com a
sua praça. Estamos agora de mãos dadas e caminhando por ela. O que você pode
ver? Talvez alguns bancos, brinquedos, árvores... Algumas estátuas, talvez
algumas pichações nela, quem sabe algum comércio informal, hippies vendendo
artesanato (trata-se de um bom espaço para a arte popular). Nessa praça podem
circular casais namorando, alguns intelectuais lendo jornal, babás e alguma
vovó cuidando das crianças no parquinho. Jovens em grupo, talvez jogando
conversa fora, talvez fazendo uso de entorpecentes. Velhos sozinhos somente
observando os outros. Policias que fazem a ronda de vez em quando.
Realmente, não
sei o que você pôde visualizar nesse primeiro passeio, mas acho que ele é
fundamental para nossa jornada. Pois, trataremos o lado de fora do templo, as
quatro paredes da sua igreja, como tratamos a nossa praça. Com o mesmo carinho.
Ir para a praça significa sair das
quatro paredes.
Existem
algumas observações importantes que podem nos ensinar sobre como encarar
missões como um estilo de vida.
Testemunho:
Podemos partir do ponto em que a
igreja foi instituída. Ela recebeu poder com um propósito:
“Mas receberão poder
quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em
Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.”
(Atos 1:8)
O propósito de todos os milagres, palavras e demais
ações advindas dessa fonte de poder era a expansão do reino de Deus através do
testemunho. O céu é o propósito final da manifestação do poder de Deus na
terra.
Podemos tomar como base desta nossa conversa o exemplo
de Paulo. Depois de ser perseguido, passado por cadeias e provado dos milagres
em vários lugares onde não se continha na proclamação das boas novas,
encontramos o apóstolo fugindo de Beréia e esperando por Silas e Timóteo em
Atenas, onde mais uma vez não se conteve.
“(Em Atenas)
Enquanto esperava por eles em Atenas, Paulo ficou profundamente indignado ao
ver que a cidade estava cheia de ídolos.”
(Atos 17:16)
Paulo tinha um testemunho de vida que demonstrava sua
indignação com a idolatria, o principal mal de seu tempo. E o nosso testemunho
tem ter o mesmo foco. Os milagres que pedimos e as atitudes que tomamos em
todas as situações têm que visar à proclamação do reino. Só assim criaremos
oportunidades para falar do evangelho. Um caráter aprovado nos dá autoridade
para falar, por que estaremos falando daquilo que vivemos.
Deus tem um jeito bem pessoal de comunicar-se comigo,
assim como tem com você, em situações de perigo ou de alguma ação que ele queira
chamar minha atenção. Sinto um mal estar específico, uma sensação que eu não
sei explicar muito bem, mas que não tem como confundir com qualquer outra
coisa. Certo dia, ao entrar na sala de aula, do último ano do ensino médio,
senti isso. De uma forma tão forte que não me contive e falei alto o que Deus
estava me falando. “Vai acontecer algo muito ruim com alguém conhecido da turma”.
Um amigo que estava ao lado ouviu e perguntou o que eu estava falando e eu
repeti com um pouco de receio. Não dei muita atenção e esqueci completamente.
Tivemos uma reunião não programada naquele dia para
discutir problemas da nossa formatura. Depois de muito se discutir e se
depreciar ao ponto de alguém dizer que não gostaria que uma pessoa que não
tinha pago desde o inicio fosse a festa, “por que estaria roubando a vaga de
alguém que ela quisesse levar”, eu e uma
amiga também cristã tentamos trazer paz á situação. Dissemos que tudo poderia
ser conversado e pedimos pelo fim da reunião. Ao voltarmos de um intervalo não
tão calmo, uma das pessoas que gostaria de ir falou que não havia pago desde o
inicio por que estava fazendo um tratamento contra o câncer. Uma bomba para
toda a turma que não sabia de nada.
A professora, que acabara de chegar, não teve dúvida,
sentiu que a situação não era apropriada para aula e nos levou para uma praça.
Ouvimos parte da historia que ela achou por bem contar, mas sai e levei comigo
a minha amiga. Fomos orar por aquela situação. Outros dois amigos se juntaram a
nós. Foi um momento muito bom. Todos fechamos os olhos e oramos. Quando minha
amiga estava orando para que Deus entrasse com providencia na vida das pessoas
envolvidas, eu abri o olho, e estavam todas por lá, na nossa frente, chorando
de olhos fechados. Participantes da oração. Quando chegou minha vez, orei uma
oração mais política, “que Deus usasse daquela situação para levar a salvação
para os que estavam tendo essa experiência”. Ao terminar de orar, a maioria dos
envolvidos oraram também. Não posso dizer quantos se converteram. Mas posso
dizer que o evangelho foi pregado com nosso testemunho. E as pessoas só pararam
pra nos ouvir por que tínhamos mostrado que tínhamos algo mais para dar.
Não sei se você percebeu, mas nada disso se passou
dentro de um templo. A presença de Deus não está limitada a quatro paredes.
Somos cartas vivas do evangelho de Cristo. Todos precisam nos ler. Quem mais
precisa, está na praça. Precisamos:
Sair do templo:
Não quero tirar a importância do templo, quero te
mostrar que se limitarmos nossa proclamação ao templo, perderemos quem
realmente está precisando ouvir a palavra de Deus.
“Por isso,
discutia na sinagoga com judeus e com gregos tementes a Deus, bem como na praça principal, todos os dias, com aqueles
que por ali se encontravam.”
(Atos 17:17)
A praça, aqui, é apresentada por Lucas, autor de
atos, como uma grande aglomeração de pessoas, um mercado. Vale salientar que
ele ficava ali falando com todos os que estavam presentes e os que estavam
chegando, todos os dias. Não se limitava ao espaço religioso, gastava tempo
onde estava o maior número de pessoas.
O templo é um espaço elitista. Só os técnicos de cada
área têm acesso, precisamos mesmo de qualificação para servir melhor a Deus. O
espaço de tempo no templo também é limitado, por isso temos regras de conduta e
liturgia, para aproveitá-lo melhor. Querendo ou não, temos mais simpatizantes
do evangelho que pessoas que nunca ouviram dele e nossas atividades têm visado
esse público com proximidade nossa forma de pensar.
A praça é
popular. O espaço é amplo. O público é variado. As nossas investidas na
pregação do evangelho têm que levar tudo isso em consideração. Ao
levar a mensagem ela precisa ser eficaz e contextualizada com as crianças, que
estão construindo seu conhecimento através das brincadeiras, que amam a
companhia da vovó, mas sentem muita falta dos pais; Com os jovens que estão
tentando tapar as brechas deixadas pela falta de uma educação mais próxima dos
pais, ou simplesmente pra serem aceitos pelos amigos do grupo; com os velhos
que estão sós, não só na praça, mas na vida, já que a nossa sociedade não os dá
dignidade nem o valor que lhes é devido.
Paulo
sabia disso quando foi à praça. Conhecia a mentalidade e a necessidade daqueles
para quem estava pregando. Fala no versículo 22 do cap. 17 "Atenienses!
Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos”. Ainda no v. 23 do
mesmo cap. “andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de
culto”. Conhecia também da literatura dos gregos e usou desse conhecimento. “...
como disseram alguns dos poetas de vocês...”. Paulo sabia que Deus tinha nos
feito como somos e que Ele tinha deixado pistas para que, buscando, nós o
encontrássemos, mesmo que fosse tateando.
“Deus fez isso para
que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não
esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como disseram alguns dos poetas de vocês:
'Também somos descendência dele”
(Atos17: 27
e 28)
Paulo chamou muita atenção. No versículo 21 Lucas fala que
“Todos os atenienses e estrangeiros que ali viviam não se preocupavam com outra
coisa senão falar ou ouvir as últimas novidades”. Não só o testemunho de Paulo,
mas a sua perseverança e ousadia de tratar assuntos religiosos na praça, levaram-no
ao ponto principal da formação do pensamento dos atenienses. O Areópago. E,
aqui, o texto não trata simplesmente como o lugar físico de discussão, mas da
corporação de homens que monitoravam o saber na cidade. Eles decidiam o que era
importante ou não para ser discutido. O grande medo não era sobre quando Paulo
falava sobre Deus, eles tinham muitos. Nem mesmo o fato de Paulo dizer que Deus
não poderia ser feito por mãos humanas nem cabe em um altar, ou seja, não pode
ser manipulado (como às vezes queremos um deus que esteja só na igreja onde
nossas responsabilidades de adorá-lo, e pregá-lo se limitem a esse espaço e podemos
acessá-lo quando precisamos dele, e somente nessa hora). A confusão só era generalizada
quando o foco do evangelho era falado.
O foco da mensagem:
“Alguns
filósofos epicureus e estóicos começaram a discutir com ele. Alguns
perguntavam: “O que está tentando dizer esse tagarela?” Outros diziam: "Parece que ele está
anunciando deuses estrangeiros”, pois Paulo estava pregando as boas novas a
respeito de Jesus e da ressurreição.”
(Atos 17:18)
Os atenienses não
compreenderam muito bem o que Paulo estava falando, acharam que Jesus era uma
divindade e que a ressurreição era outra. Para eles o fato de um homem ser a
encarnação de Deus, que havia ressuscitado dos mortos e que através desse homem
iria julgar a terra, era motivo de zombaria.
Por mais que esse ponto seja conflitante e seja mais fácil
para as pessoas entenderem sobre o amor, a ação social, o bom caráter, os
milagres... que são tão pregados nas nossas igrejas, o ponto principal da nossa
fé é o FATO de que Jesus morreu numa cruz por amor: Ninguém tem maior amor do
que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos (Jo15:13). E, que ele
ressuscitou com poder para nos livrar da morte e do pecado: “Por isso é que meu
Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la. Ninguém a tira de mim,
mas eu a dou por minha espontânea vontade. Tenho autoridade para dá-la e para
retomá-la. Esta ordem recebi de meu Pai" (Jo 10:17 e 18).
Sob autoridade do nome de Jesus foram colocados todos os anjos e
demônios e todos os homens, por meio Dele, podem ter acesso à vida eterna e a
intimidade profunda com o Pai.
“Pois estabeleceu um dia em que há de julgar
o mundo com justiça, por meio do homem
que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos”.
(Atos 17:31)
Alguns
zombaram, é verdade. O espírito atuou naqueles corações e os que responderam
positivamente a proposta de uma nova vida com Cristo foram alcançados. Tanto
pessoas importantes, como o areopagista, quanto pessoas comuns. Mas a palavra
foi levada a todos.
Às
vezes não sabemos o que vamos fazer realmente, ou por que lutar. As vezes as
dificuldades da vida nos levam a tirar o nosso foco dessa prova de amor e poder
que deus nos deu. A nossa vida com Cristo tem um fim. E não ouvimos mais tantas
pregações sobre o céu, é mais fácil ouvir sobre o inferno ou sobre as nossas
dificuldades do dia a dia, mas deixe-me te dar uma visão do céu:
“E as doze
portas eram doze pérolas: cada uma das portas era uma pérola; e a praça da cidade de ouro puro, como
vidro transparente. E nela não vi templo,
porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. E a cidade não
necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a
sua lâmpada. E as nações andarão à sua
luz; e os reis da terra trarão
para ela a sua glória e honra. E as
suas portas não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite. E a ela trarão a glória e honra das
nações. E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro.
E MOSTROU-ME o rio puro da água da vida,
claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua
praça, e de uma e da outra banda do
rio, estava a árvore da vida, que
produz doze frutos, dando seu fruto
de mês em mês; e as folhas da árvore
são para a saúde das nações. E ali nunca
mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão. E verão o
seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome. E ali não haverá mais noite, e
não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumia;
e reinarão para todo o sempre.”
(Apc. 21:21 a 22:5)
Daria para
falar muito sobre o céu. Sobre o que representa o fato de todas as nações e
reis entregarem a glória e honra a essa nova terra. Entrando em igualdade de
condições diante de Deus. Daria pra falar de Luz ou de riquezas, do alimento
continuo ou da presença constante de Deus. Mas quero fixar-me na acessibilidade
a tudo isso. João se refere a esse lugar como uma praça ou como “rua
principal”, em comparação com as ruas estreitas do oriente, na época. Toda essa
majestade será para todos, sem distinção e a qualquer momento. Vale a pena
lutar por isso. Todos os nossos problemas e desejos se tornam muito menores
diante do tamanho dessa promessa. Precisamos preparar e enviar missionários
para o mundo e precisamos dar fruto onde estamos plantados também. Nossa missão
é a todo o momento. Nosso campo é o mundo. Testemunhas aqui e em todo o lugar
como Jesus nos comissionou.
Ore por
missões, sustente missões e faça missões. As três ações não são excludentes.
Precisamos de uma igreja que esteja disposta a orar, sustentar e ir, ao mesmo
tempo e de maneira constante. Poderemos, assim, declarar como Paulo:
“Combati o bom combate, acabei a carreira e
guardei a fé”.
(II Tm 4:7)
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