quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A praça
           

Olá,

Hoje proponho a você uma viagem. Uma viagem a algumas praças, que eu e você já vivemos. Essa viagem tem o propósito de nos ensinar sobre missões. Bom... Começaremos com a sua praça. Estamos agora de mãos dadas e caminhando por ela. O que você pode ver? Talvez alguns bancos, brinquedos, árvores... Algumas estátuas, talvez algumas pichações nela, quem sabe algum comércio informal, hippies vendendo artesanato (trata-se de um bom espaço para a arte popular). Nessa praça podem circular casais namorando, alguns intelectuais lendo jornal, babás e alguma vovó cuidando das crianças no parquinho. Jovens em grupo, talvez jogando conversa fora, talvez fazendo uso de entorpecentes. Velhos sozinhos somente observando os outros. Policias que fazem a ronda de vez em quando.
Realmente, não sei o que você pôde visualizar nesse primeiro passeio, mas acho que ele é fundamental para nossa jornada. Pois, trataremos o lado de fora do templo, as quatro paredes da sua igreja, como tratamos a nossa praça. Com o mesmo carinho.  Ir para a praça significa sair das quatro paredes.
Existem algumas observações importantes que podem nos ensinar sobre como encarar missões como um estilo de vida.

Testemunho:

Podemos partir do ponto em que a igreja foi instituída. Ela recebeu poder com um propósito:

“Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.”
 (Atos 1:8)
O propósito de todos os milagres, palavras e demais ações advindas dessa fonte de poder era a expansão do reino de Deus através do testemunho. O céu é o propósito final da manifestação do poder de Deus na terra.
Podemos tomar como base desta nossa conversa o exemplo de Paulo. Depois de ser perseguido, passado por cadeias e provado dos milagres em vários lugares onde não se continha na proclamação das boas novas, encontramos o apóstolo fugindo de Beréia e esperando por Silas e Timóteo em Atenas, onde mais uma vez não se conteve.

(Em Atenas) Enquanto esperava por eles em Atenas, Paulo ficou profundamente indignado ao ver que a cidade estava cheia de ídolos.”
(Atos 17:16)
Paulo tinha um testemunho de vida que demonstrava sua indignação com a idolatria, o principal mal de seu tempo. E o nosso testemunho tem ter o mesmo foco. Os milagres que pedimos e as atitudes que tomamos em todas as situações têm que visar à proclamação do reino. Só assim criaremos oportunidades para falar do evangelho. Um caráter aprovado nos dá autoridade para falar, por que estaremos falando daquilo que vivemos.
Deus tem um jeito bem pessoal de comunicar-se comigo, assim como tem com você, em situações de perigo ou de alguma ação que ele queira chamar minha atenção. Sinto um mal estar específico, uma sensação que eu não sei explicar muito bem, mas que não tem como confundir com qualquer outra coisa. Certo dia, ao entrar na sala de aula, do último ano do ensino médio, senti isso. De uma forma tão forte que não me contive e falei alto o que Deus estava me falando. “Vai acontecer algo muito ruim com alguém conhecido da turma”. Um amigo que estava ao lado ouviu e perguntou o que eu estava falando e eu repeti com um pouco de receio. Não dei muita atenção e esqueci completamente.
Tivemos uma reunião não programada naquele dia para discutir problemas da nossa formatura. Depois de muito se discutir e se depreciar ao ponto de alguém dizer que não gostaria que uma pessoa que não tinha pago desde o inicio fosse a festa, “por que estaria roubando a vaga de alguém que ela quisesse levar”,  eu e uma amiga também cristã tentamos trazer paz á situação. Dissemos que tudo poderia ser conversado e pedimos pelo fim da reunião. Ao voltarmos de um intervalo não tão calmo, uma das pessoas que gostaria de ir falou que não havia pago desde o inicio por que estava fazendo um tratamento contra o câncer. Uma bomba para toda a turma que não sabia de nada.
A professora, que acabara de chegar, não teve dúvida, sentiu que a situação não era apropriada para aula e nos levou para uma praça. Ouvimos parte da historia que ela achou por bem contar, mas sai e levei comigo a minha amiga. Fomos orar por aquela situação. Outros dois amigos se juntaram a nós. Foi um momento muito bom. Todos fechamos os olhos e oramos. Quando minha amiga estava orando para que Deus entrasse com providencia na vida das pessoas envolvidas, eu abri o olho, e estavam todas por lá, na nossa frente, chorando de olhos fechados. Participantes da oração. Quando chegou minha vez, orei uma oração mais política, “que Deus usasse daquela situação para levar a salvação para os que estavam tendo essa experiência”. Ao terminar de orar, a maioria dos envolvidos oraram também. Não posso dizer quantos se converteram. Mas posso dizer que o evangelho foi pregado com nosso testemunho. E as pessoas só pararam pra nos ouvir por que tínhamos mostrado que tínhamos algo mais para dar.
Não sei se você percebeu, mas nada disso se passou dentro de um templo. A presença de Deus não está limitada a quatro paredes. Somos cartas vivas do evangelho de Cristo. Todos precisam nos ler. Quem mais precisa, está na praça. Precisamos:

Sair do templo:

Não quero tirar a importância do templo, quero te mostrar que se limitarmos nossa proclamação ao templo, perderemos quem realmente está precisando ouvir a palavra de Deus.

“Por isso, discutia na sinagoga com judeus e com gregos tementes a Deus, bem como na praça principal, todos os dias, com aqueles que por ali se encontravam.”
(Atos 17:17)
A praça, aqui, é apresentada por Lucas, autor de atos, como uma grande aglomeração de pessoas, um mercado. Vale salientar que ele ficava ali falando com todos os que estavam presentes e os que estavam chegando, todos os dias. Não se limitava ao espaço religioso, gastava tempo onde estava o maior número de pessoas.
O templo é um espaço elitista. Só os técnicos de cada área têm acesso, precisamos mesmo de qualificação para servir melhor a Deus. O espaço de tempo no templo também é limitado, por isso temos regras de conduta e liturgia, para aproveitá-lo melhor. Querendo ou não, temos mais simpatizantes do evangelho que pessoas que nunca ouviram dele e nossas atividades têm visado esse público com proximidade nossa forma de pensar.
            A praça é popular. O espaço é amplo. O público é variado. As nossas investidas na pregação do evangelho têm que levar tudo isso em consideração. Ao levar a mensagem ela precisa ser eficaz e contextualizada com as crianças, que estão construindo seu conhecimento através das brincadeiras, que amam a companhia da vovó, mas sentem muita falta dos pais; Com os jovens que estão tentando tapar as brechas deixadas pela falta de uma educação mais próxima dos pais, ou simplesmente pra serem aceitos pelos amigos do grupo; com os velhos que estão sós, não só na praça, mas na vida, já que a nossa sociedade não os dá dignidade nem o valor que lhes é devido.
            Paulo sabia disso quando foi à praça. Conhecia a mentalidade e a necessidade daqueles para quem estava pregando. Fala no versículo 22 do cap. 17 "Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos”. Ainda no v. 23 do mesmo cap. “andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto”. Conhecia também da literatura dos gregos e usou desse conhecimento. “... como disseram alguns dos poetas de vocês...”. Paulo sabia que Deus tinha nos feito como somos e que Ele tinha deixado pistas para que, buscando, nós o encontrássemos, mesmo que fosse tateando.

“Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos,  como disseram alguns dos poetas de vocês: 'Também somos descendência dele”
(Atos17: 27 e  28)
Paulo chamou muita atenção. No versículo 21 Lucas fala que “Todos os atenienses e estrangeiros que ali viviam não se preocupavam com outra coisa senão falar ou ouvir as últimas novidades”. Não só o testemunho de Paulo, mas a sua perseverança e ousadia de tratar assuntos religiosos na praça, levaram-no ao ponto principal da formação do pensamento dos atenienses. O Areópago. E, aqui, o texto não trata simplesmente como o lugar físico de discussão, mas da corporação de homens que monitoravam o saber na cidade. Eles decidiam o que era importante ou não para ser discutido. O grande medo não era sobre quando Paulo falava sobre Deus, eles tinham muitos. Nem mesmo o fato de Paulo dizer que Deus não poderia ser feito por mãos humanas nem cabe em um altar, ou seja, não pode ser manipulado (como às vezes queremos um deus que esteja só na igreja onde nossas responsabilidades de adorá-lo, e pregá-lo se limitem a esse espaço e podemos acessá-lo quando precisamos dele, e somente nessa hora). A confusão só era generalizada quando o foco do evangelho era falado.

O foco da mensagem:

“Alguns filósofos epicureus e estóicos começaram a discutir com ele. Alguns perguntavam: “O que está tentando dizer esse tagarela?”  Outros diziam: "Parece que ele está anunciando deuses estrangeiros”, pois Paulo estava pregando as boas novas a respeito de Jesus e da ressurreição.
 (Atos 17:18)
Os atenienses não compreenderam muito bem o que Paulo estava falando, acharam que Jesus era uma divindade e que a ressurreição era outra. Para eles o fato de um homem ser a encarnação de Deus, que havia ressuscitado dos mortos e que através desse homem iria julgar a terra, era motivo de zombaria.
Por mais que esse ponto seja conflitante e seja mais fácil para as pessoas entenderem sobre o amor, a ação social, o bom caráter, os milagres... que são tão pregados nas nossas igrejas, o ponto principal da nossa fé é o FATO de que Jesus morreu numa cruz por amor: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos (Jo15:13). E, que ele ressuscitou com poder para nos livrar da morte e do pecado: “Por isso é que meu Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou por minha espontânea vontade. Tenho autoridade para dá-la e para retomá-la. Esta ordem recebi de meu Pai" (Jo 10:17 e 18). Sob autoridade do nome de Jesus foram colocados todos os anjos e demônios e todos os homens, por meio Dele, podem ter acesso à vida eterna e a intimidade profunda com o Pai.

“Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos”.
(Atos 17:31)

            Alguns zombaram, é verdade. O espírito atuou naqueles corações e os que responderam positivamente a proposta de uma nova vida com Cristo foram alcançados. Tanto pessoas importantes, como o areopagista, quanto pessoas comuns. Mas a palavra foi levada a todos.
            Às vezes não sabemos o que vamos fazer realmente, ou por que lutar. As vezes as dificuldades da vida nos levam a tirar o nosso foco dessa prova de amor e poder que deus nos deu. A nossa vida com Cristo tem um fim. E não ouvimos mais tantas pregações sobre o céu, é mais fácil ouvir sobre o inferno ou sobre as nossas dificuldades do dia a dia, mas deixe-me te dar uma visão do céu:

“E as doze portas eram doze pérolas: cada uma das portas era uma pérola; e a praça da cidade de ouro puro, como vidro transparente. E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada. E as nações andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra. E as suas portas não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite. E a ela trarão a glória e honra das nações. E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro.
E MOSTROU-ME o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, e de uma e da outra banda do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a saúde das nações. E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão. E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome. E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumia; e reinarão para todo o sempre.”
 (Apc. 21:21 a 22:5)
Daria para falar muito sobre o céu. Sobre o que representa o fato de todas as nações e reis entregarem a glória e honra a essa nova terra. Entrando em igualdade de condições diante de Deus. Daria pra falar de Luz ou de riquezas, do alimento continuo ou da presença constante de Deus. Mas quero fixar-me na acessibilidade a tudo isso. João se refere a esse lugar como uma praça ou como “rua principal”, em comparação com as ruas estreitas do oriente, na época. Toda essa majestade será para todos, sem distinção e a qualquer momento. Vale a pena lutar por isso. Todos os nossos problemas e desejos se tornam muito menores diante do tamanho dessa promessa. Precisamos preparar e enviar missionários para o mundo e precisamos dar fruto onde estamos plantados também. Nossa missão é a todo o momento. Nosso campo é o mundo. Testemunhas aqui e em todo o lugar como Jesus nos comissionou.
Ore por missões, sustente missões e faça missões. As três ações não são excludentes. Precisamos de uma igreja que esteja disposta a orar, sustentar e ir, ao mesmo tempo e de maneira constante. Poderemos, assim, declarar como Paulo:
“Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”.

(II Tm 4:7)

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